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Acervo - Blog Luiz Flávio Gomes

Educação no Brasil “soa como caos”: Beto Richa fez sua parte!

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Esta foto, um escárnio como aquele do Sérgio Cabral em Paris e Mônaco (escândalo dos guardanapos), que bem revela a bandidagem das elites do poder, registrou o momento em que Beto Richa, em 2014, na piscina do hotel Delano em Miami, confraternizava sua vitória eleitoral com a nata da rapinagem empresarial acusada de desviar dinheiro das escolas para gastos de campanha, enriquecimento pessoal e desfrute brega da vida, que afinal é muito curta.

O governo que não começa cumprindo ao pé da letra a Constituição com escola obrigatória e de qualidade para todos, até os 18 anos, em período integral (eu acrescentaria), não é governo, muito menos exemplo de patriotismo; é enganação (qualquer que seja sua linha ideológica: esquerda, centro, direita ou extrema-direita). E se rouba o dinheiro das escolas é uma enganação bandida.

Educação não é só uma questão de progresso individual, senão também o eixo basilar do crescimento econômico (e da prosperidade da nação). Educação de péssima qualidade e baixo crescimento econômico são irmãos siameses. Todo mundo sabe disso, mas continuamos na mediocridade educacional.

Vendo nossos números na educação, não há dúvida que ela “soa como caos”, que é um palíndromo. Palíndromos são palavras ou frases que podem ser lidas de frente para trás ou de trás para frente. É a mesma sequência de letras em qualquer sentido que se faça a leitura. O citado “soa como caos” é um exemplo. Faça o teste. Leia de trás para frente. Reviver, ódio doido, livre do poder vil, mega bobagem, a mala nada na lama, subi no ônibus etc. São incontáveis os palíndromos.

Olhando para todos os que governam ou governaram o Brasil, a educação é um palíndromo em outro sentido: ela é indecente, desigual e abjeta, seja quando focada da esquerda para a direita, seja quando encarada da direita para a esquerda. Nem os governos de esquerda nem os de direita entenderam a relevância da educação, que é obrigação do Estado e da família.

Em matéria de educação, governo, povo e partido no Brasil é praticamente tudo sem escola de qualidade; quando há escola, não se cultiva o estudo sério. Desde o ensino dos jesuítas é assim.

A questão não é cantar o Hino Nacional (que tem apoio de 62,4%, conforme o Instituto Paraná Pesquisas), como papagaios, é entendê-lo (palavra por palavra). Norma da era petista já exigia o canto do hino uma vez por semana. Filmar crianças nas escolas é falta de estudo. Estudo da Constituição e do ECA, que proíbem isso.

Exigir slogan de campanha eleitoral nas escolas é criar a Escola com Partido. Também a Constituição proíbe (art. 37). Num país onde todos descumprem a Constituição, o milagre é a existência de gente que acredita no futuro da nação (diria Renato Russo com o Legião Urbana).

Nosso grave problema, como se vê, ou é a falta de escola ou é a falta de estudo nas escolas. No dia em que lutarmos todos pela escola com estudo, todos compreenderemos a falta de sentido da Escola sem Partido. Porque somos todos contra a doutrinação (incluindo a doutrinação e a lavagem cerebral anunciada pelo próprio MEC); o que queremos é estudo de qualidade universalizado, pelo menos o ensino básico (até os 18 anos).

Os gastos com a educação no Brasil ($ 130 bilhões de reais por ano, quase 6% do PIB; estamos no grupo dos 20% que mais gastam em educação) são maiores que a média dos países ricos? São. Há muita corrupção também na educação? Sim. Tudo isso tem que ser devidamente apurado? Não há dúvida. Quem seria contra, senão os próprios bandidos.

Mas o fundamental é como os gastos são feitos, qual tem sido a prioridade do ensino e o quanto de analfabetismo (formal ou funcional) nossas escolas produzem. É isso que temos que enfrentar.

Pais que não foram para a escola ou que não estudaram quando passaram por ela não compreendem, justamente por falta de estudo, que o estudo sério, que gera aprendizagem válida para toda vida, garantindo emprego e bons salários, “é um trabalho muito cansativo, com um tirocínio particular próprio, não só intelectual, mas também muscular-nervoso: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e até mesmo sofrimento” (C. Calligaris, Folha 28/2/19).

Quem diz que os presos deveriam trabalhar (logo se pensa em trabalhos viáveis dentro da prisão) deveriam também entender que o estudo é um trabalho muito duro, quando levado a sério. O afrouxamento do estudo, suas facilidades, aprovações sem provas, ou seja, sem méritos, escolas sem o ensino da ética, da disciplina e da moral, são resultado de políticas equivocadas, que confundem recreio com estudo.

Escola com estudo sério, persistente, é isso que faz com que o ser humano não venda para o mercado de trabalho somente sua força muscular, corporal, dos braços e das pernas. É isso que o faz mais que um corpo, um espírito. A geração que não estuda pra valer não consegue transcender o destino dos seus pais que não foram para a escola ou que não estudaram com afinco.

Não se aprende matemática, ciências, português, música, dança, futebol, línguas ou informática sem “responsabilidade no estudo”, na aprendizagem. O problema é que nossas escolas, em regra, não sendo de período integral, não vêm sendo programadas para estudar, tal como se vê nas experiências de vários países orientais (Coreia do Sul, Japão e tantas outras) e até mesmo no Brasil (Sobral, Espírito Santo etc.).

Aprendemos rudimentarmente nossos direitos e focamos muito pouco nos nossos deveres. A começar pelo dever de estudar com intensidade. Escola com estudo sério é a solução. Qual “mão invisível” está impedindo que isso aconteça no Brasil?

A foto que promoveu Richa ao estágio de escárnio foi fornecida pelo delator Maurício Fanini (ver Josias de Souza, UOL 9/3/19).

Quer saber mais?

Zeina Latif, Estadão 28/2/19, afirmou o seguinte:

(i) nossa evasão escolar é muito elevada (15% dos jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola); (ii) apenas 37% dos jovens contam com formação profissional (principalmente das classes abastadas, cujas mães possuem 1,2 filho, contra 2,9 das mães da base da pirâmide); (iii) 23% dos jovens nem trabalham nem estudam; (iv) de cada 5 nascimentos, um é filho de adolescente (gravidez precoce); (v) é imprescindível a elevação da carga horária assim como a redução drástica do absenteísmo (dos alunos e dos professores); (vi) impõe-se a valorização da carreira de professor, cujos bônus devem ser atrelados ao desempenho dos alunos; (vii) os municípios com melhor performance devem receber mais verbas (eu acrescentaria); (viii) temos que copiar os bons exemplos brasileiros (Sobral, Espirito Santo etc.

Maria Alie Setubal e Anna Helena Altenfelder (Folha 28/2/19) escreveram:

(i) 49 milhões de alunos estão matriculados na educação básica; (ii) sem nenhum estudo exaustivo e na base da total improvisação anuncia-se a “homeschooling” (educação domiciliar); (iii) 2 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola (com futuro seriamente comprometido); (iv) 2,7 milhões de menores de 18 anos estão em situação de trabalho infantil;  (v) a educação escolar é complemento da educação familiar; (vi) a escola tem o papel de promover a construção da identidade social e do pertencimento, garantindo convivência com as diferenças; (vii) ela forma cidadãos que podem participar das esferas econômica, política, social e cultural.

Vinicius Torres Freira (Folha 6/12/18) acrescenta:

(i) quase 1/3 dos jovens de 15 a 17 anos não cursa o ensino médio na idade adequada; (ii) no quinto mais pobre o atraso passa de 45% (contra 10% no quinto mais rico); (iii) na educação pré-escolar 87% estão na escola (média na OCDE é de 88%); (iv) onde um morador da casa foi à universidade, 62% estão na escola; onde os moradores só fizeram ensino fundamental, 47% estão na escola; (v) apenas 36% dos alunos de escola pública vão para a universidade (contra 79% daqueles que fizeram escola privada): (vi) menos de 20% completam o ensino superior, na idade entre 25 e 34 anos (na OCDE, a média é de 37%); (vii) quem fez faculdade ganha 2,5 vezes o salário médio de quem fez apenas o ensino médio (na OCDE, 1,6 vez).

João Batista Araújo, no Valor Econômico 22/2/19, sublinhou:

(i)  a cada ano, a repetência e evasão arrastam para a lama 6,3 milhões de indivíduos. A repetência penaliza 7,3% dos alunos nas séries iniciais, 11% nas séries finais e 10,5% no ensino médio, e é agravada pela evasão (2,1%, 5,4% e 11,2% respectivamente); (ii) desde 2009, o ritmo de melhoria da educação brasileira está se arrefecendo; (iii) apenas 16, 15 e 5% dos concluintes do 5º, 9º e 3º ano do ensino médio alcançam os níveis de 250, 300 e 350 pontos nos testes dessas séries. Esta nota corresponde aos níveis 5 e 6 na escala de proficiência em Matemática da Prova Brasil. Tem mais: em 107 municípios, mais de 90% dos alunos encontram-se abaixo da média nacional. Ou seja, poucos conseguem ficar acima da lama dos brumadinhos da educação; (iv) a produtividade de hoje é similar à observada em 1980. Em virtude desta estagnação, o trabalhador brasileiro tem ficado para trás na comparação internacional. Por exemplo, em 1980 a produtividade do trabalhador brasileiro era 25% da de um trabalhador norte-americano. Em 2010, já tinha sido reduzida a 16%, e essa tendência vem se acentuando; (v) mais de 10% dos alunos atingiram ao menos o nível 5 (de um total de 6) na prova de Ciências em 2015 (Alemanha, 10,6; Canada, 12,4; Finlândia, 14,3; Japão, 15,3), ao passo que no Brasil apenas 0,7% dos alunos atingem esse nível.

Para arrematar, no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), de 2016, o Brasil ficou na 66ª posição em matemática, 63ª em ciências e 59ª em leitura. Em um total de 70 países, o Brasil apresentou queda de pontuação nas três áreas. Sobram excrescências, inclusive produzidas pelo MEC, falta estudo!

Comentários

  1. Marcelo Barbosa Francisco disse:

    Professor, muito bem colocado seu post.

    Fico pensando como seria o Brasil caso os governantes se preocupassem com a QUALIDADE do que é ensinado, ao invés do que é cantado RISOS.

    Com certeza, se fizéssemos isso, chegaríamos, a médio prazo, ao tão sonhado status de país desenvolvido.

  2. Wallace Taylor disse:

    Quanto nativos brasileiros. Compartilhamos do mesmo entendimento.
    Os “gestores“ públicos do Brasil apresentam robustos indicativos de que vivem em outro planeta, pois o que costumam nos induzir a acreditar no que é pertinente à EDUCAÇÃO, SAÚDE, SANEAMENTO BÁSICO, INOVAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, DESENVOLVIMENTO DE PATENTES E PROPRIEDADES INTELECTUAIS E CIENTÍFICAS SEJA NO SETOR MILITAR, PÚBLICO EM GERAL, CIVIL OU PRIVADO EM SOLO NATIVO BRASILEIRO, INFRAESTRUTURA E OUTRAS QUESTÕES ESTRATÉGICAS A QUAISQUER NAÇÕES DO MUNDO, não condiz com a realidade, consequentemente estão nos empurrando, sepultando-nos como “ NAÇÃO”, como “PAÍS”, dia após dia, mês após mês, ano após ano, década após década, século após século, no mais PROFUNDO ABISMO que nos consolida como A MAIOR, A MAIS RICA, A MAIS IMPORTANTE E A MAIS COBIÇADA COLÔNIA EXTRATIVISTA DE DIMENSÕES CONTINENTAIS DO PLANETA. Os nossos concidadãos não devem subestimar essas questões e suas correlações.
    É imperativo que nossos nativos considerem a seguinte citação:
    “Se o Brasil for condenado, pelos meus representantes, a continuar a ser, diante do mundo, a fábula dos países miseráveis, risíveis e desprezíveis, não será porque eu não tenha exercido as minhas forças em bradar à nossa pátria.”
    Rui Barbosa

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