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Acervo - Blog Luiz Flávio Gomes

Indústria indo para além do fundo do poço.

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A tragédia do desmoronamento da indústria continua em 2019.

Ela faturou 6,3% menos em março (diz CNI, na Veja). No primeiro trimestre, a redução foi de 4,1%. Horas trabalhadas: menos 1,5%; capacidade instalada: recuo de 0,3%. Problemas: (i) falta de demanda (sem trabalhador assalariado e registrado não há consumidor e sem consumidor não tem produção); (ii) muito estoque (não há comprador); (iii) questão financeira (os maiores juros do mundo estão aqui). Sem mudanças, um grande shutdown se avizinha.

A situação da indústria (siderurgia, montadoras, fabricantes têxteis, de calçados, móveis etc.) é mais um sintoma grave de uma sociedade degradada que cresceu 6,1% a.a. de 1930 a 1980 e que nas últimas quatro décadas está semiestagnada (2% a.a. de crescimento econômico). Sociedade em que falta comida no prato para uma parcela da população e lucros para as empresas e empreendedores na outra ponta nunca alcança regimes políticos estáveis. É inevitável a ligação entre a situação socioeconômica do povo e a política (ver Yascha Mounk, O povo contra a democracia, p. 186 e ss.).

O que vemos? Mercado, Estado, Política e Comunidade desencontrados. Incontáveis fábricas e empresas estão fechando as portas.

A indústria brasileira chegou, em 2018, ao menor patamar em mais de 70 anos. Voltou aos mesmos números de 1947. Esse setor respondeu por apenas 11,3% da atividade econômica do País no ano passado (Estadão). Em 1986, o seu pico foi de 27,3% do PIB.

A reforma da previdência é necessária, mas não é preciso massacrar o velhinho miserável que recebe o BPC nem o trabalhador rural (por exemplo). A política socioeconômica mundial dos últimos 40 anos vem ferrando todas as classes sociais (de A a E). Só se salvam as pequenas elites.

O modelo socioeconômico mundial vigente vem aniquilando o consumidor (o trabalhador, que se precarizou). Agora a derrocada é da indústria e, consequentemente, do comércio. A demanda se evaporou. Sem crescimento econômico não teremos receitas para a prestação de serviços públicos decentes nem o desemprego vai diminuir. Essa é a fórmula perfeita para a instabilidade política, que gera desconfiança (afugentando o investimento).

Os ferrados da nação (das nações) já não pertencem somente às classes desorganizadas ou despossuídas dos meios de produção. Todas as classes sociais (do topo até a base) estão sendo prejudicadas, pelas elites (nacionais e internacionais) que estão canalizando somente para elas a riqueza do planeta.

A onda digital avassaladora decorrente das 3ª e 4ª Revoluções Industriais (1990 e 2010) tornou obsoleto todo processo industrial que havia anteriormente no mercado (“destruição criativa”, de Schumpeter). Novos programas, consultorias e negócios via internet estão tomando o lugar da velha indústria analógica.

Já não é justo defender a luta apenas dos trabalhadores ou desempregados ou somente da indústria, do comércio ou do agronegócio ou dos autônomos. Todos que estão abaixo das elites dirigentes regidas pelo desproporcional capitalismo financeiro internacional e improdutivo estão sendo expropriados neste país e no mundo.

Em graus diferentes, evidentemente, mas todos estão sendo saqueados pelos “pactos oligárquicos” que rapinam o povo. O comunismo olhava para o proletariado. O capitalismo radical dos últimos 40 anos só olha para os interesses das elites supremas. São modelos extremados. Uma síntese ética é necessária.

Também a indústria de alta tecnologia (eletrônica, informática, química, automobilística e farmacêutica) está encolhendo rapidamente, antes mesmo de deslanchar.

São evidentes os efeitos nefastos do processo aniquilador da desindustrialização. Os cinco segmentos da indústria sofisticada que tinham em 1980 9,7% do PIB recuaram para 5,8%, em 2016.

“O Brasil é um país que nunca perde a oportunidade de perder oportunidades” (dizia o ministro Roberto Campos).

Perdemos o bonde de todas as revoluções industriais, incluindo agora a tecnológica. Longe da indústria 4.0, só nos resta o grito irresignado de sermos uma nação de ferrados e marginalizados também na área da tecnologia. Estamos ocupando a periferia da marginalização.

O desastre da indústria brasileira se deve, obviamente, a vários fatores: máquinas desatualizadas, equipamentos não modernizados, processos antiquados, burocracia tributária, falta de competitividade, mão de obra pouco qualificada (por falta de educação de qualidade), gerenciamento analógico, falta de infraestrutura, mercado globalizado, protecionismo nocivo prolongado, corrupção sistêmica, diplomacia comercial desastrada, e por aí vai.

Dentre todos os fatores citados, ocupam lugar de destaque as taxas de juros, que estão entre as mais altas do planeta.

Como isso ocorreu? Primeiro veio a concentração dos bancos (mercado livre não competitivo). Em segundo lugar a conivência das elites do Estado e da Política. Em terceiro lugar está a má-fé (a ganância, a voracidade destrutiva).

De 2007 a 2013 vários bancos (23 estão sob investigação: BTG Pactual, Itaú, Santander, Bradesco, Bank of America, Citibank, UBS etc.) instalaram no Brasil um criminoso cartel, posto que combinavam a taxa de câmbio a ser cobrada dos clientes.

Vários bancos confessaram isso nos EUA assim como perante o Cade (no nosso país). Pelo menos 14 grupos econômicos (Vale, Gol, Usiminas, Braskem, OcieanAir etc.) entraram com ação judicial (ver Folha) para cobrar indenização dos bancos cartelizados, que são grandes opressores no Brasil.

As vergonhosas taxas de juros, ao lado de tantos outros fatores gerenciais, tecnológicos e políticos, estão contribuindo para o aniquilamento total do país. Estamos indo para o abismo que fica muito além do fundo do poço. Se continuarmos construindo moais (estátuas enormes de pedra), Ilha de Páscoa será nosso destino. Alguém que pense no bem-estar de todos (na política BET – bem estar para todos) tem que reverter esse quadro e dar novo prumo para o Brasil.

LUIZ FLÁVIO GOMES, professor, jurista e Deputado Federal Contra a Corrupção.

Comentários

  1. Miguel Napoleão Teixeira disse:

    São os altos salários,benesses, pensões, acumulações e mordomias no serviço público, claro, agora,junte-se a isso despreparo, incompetência e má fé do atual governo!

  2. Maria Eufemia Leal disse:

    O povo não tem poder de compra, pedágios, telefonia, tv a cabo, internet e muitos outros serviços mais caros do mundo e de péssima qualidade, quando compramos um carro, pagamos 1 carro para a indústria, outro para o governo e outro para o seguro.o governo não cobra quem deve e ainda perdoa dívidas de milionários. O governo está governando para os banqueiros. Faz tudo ao contrário, a máquina pública é inchada , ineficiente, os impostos altíssimos. A corrupção nas estatáis é fora do controle. Uma nova crise se desenha professor, nosEUA, a volvo e outra já não produzem mais carros a gasolina, só elétricos ,no Japão e em outros países também não. Os Árabes estão procurando outra coisa pra fazer, sabem que vai sobrar petróleo. Enquanto isso nós pagamos caríssimo por um litro de gasolina, nossa comida chega muito cara. E tem mais, já falta produtos agrícolas nas feiras e mercados. Chega pouco nas grandes cidades. Ex: quiabo, vagem, pimenta americana e balãozinho , comprávamos por quilo e barato, hoje compramos em um pequeno pratinho de isopor
    E caro, as pessoas não percebem que isso é falta de mercadorias ,a produção está ficando lá mesmo no interior, tem consumidor para isso. Imagine o que vai acontecer se mais pessoas saírem do campo por causa da reforma da prev.. O governo não tem um plano para dar ao povo poder de compra, pelo contrário quer dar poder a banqueiros, o povo não compra, o comércio não vende e a indústria não produz. Produzir como com juros altíssimos, e vender pra quem. ? Colocar um banqueiro como ministro da economia é um erro, bancos não produzem nada. Professor, perdi a confiança nesse governo. Ele tinha que ter feito uma reforma fiscal, diminuir pela metade os gastos com a máquina pública etc, jamais tirar de agricultores, pessoas doentes, entregar a prev a bancos. Cadê o nióbio, o grafeno ? Íamos ficar milionários ? Somos um país rico , mas governado por banqueiros, jamais iremos pra frente.

  3. Marisa C G Garroux disse:

    Dr. Luiz Flávio Gomes grandes ponderações sobre a atual situação da indústria em nosso País, conjugada a este desastre de pessoas que estão no comando do País, que acham que só com a reforma previdenciária o Páis via crescer e gerar empregos. ai me pergunto: onde demonstraram isso??? em nenhum lugar e qual a estratégia para alavancar o País? o atual governo também nada apresenta, alías ao que parece o direito a informação de dados está sendo suplantada. Somente, mas somente a educação, educação e culturas de primeiro mundo poderá tirar nosso País dessa dormência envolta pelo capitalismo selvagem e as amarras da corrupção. Nosso País é ríquissimo em produtos naturais, flora, fauna, minerais, clima. Falta a esta Nação pessoas que amem nossa Pátria, que agreguem valores e que não tire ou de gratuitamente para outros Países e, somente com informação, educação, cultura poderá o Brasil avançar, gerar empregos, fazer a economia crescer. A economia é uma espiral, onde gera empregos, gera impostos, gera consumo, gera investimentos. Onde estão os economistas deste Governo eleito que não percebem pela própria história da humanidade que e não investir no próprio ser humano este não terá como consumir e gerar riquezas. Fica aqui meu desabafo. E que Deputados da envergadura como o doutor façam pela Nação aquilo que o Executivo não está fazendo, bem como obste aos retrocessos sociais. Uma sociedade livre, justa e solidária. Obrigada. Marisa Garroux

  4. Oriovaldo Junqueira disse:

    Se o Lula não voltar a governar o país logo tá todo mundo fodido, rico, pobre, preto, puta, viado, japoneis, fazendeiro…

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