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Acervo - Blog Luiz Flávio Gomes

Vazamentos: ao Supremo cabe cumprir o seu papel

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Todo mundo está cumprindo seu papel no caso dos vazamentos das conversações do ex-juiz Moro com procuradores. Assim funcionam as democracias, incluindo as digitais.

O jornalista que está divulgando o material (no site The Intercept) obtido a partir de celulares e redes de comunicação do Moro e outras pessoas está cumprindo o papel do jornalismo (divulgar fatos de interesse público, independentemente da sua origem ilícita). A Lava Jato promoveu muitos vazamentos. A divulgação foi jornalismo.

O jornalista do Intercept nada falou sobre sua fonte: está cumprindo seu papel constitucional de preservar a fonte da matéria.

Aquele famoso diálogo entre Dilma e Lula foi objeto de uma gravação ilícita (foi gravado depois que já havia cessada a operação). Teori Zavascki desconsiderou por completo aquela prova, refutando sua validade. Ainda assim, Moro, mesmo sendo juiz do caso, depois de trocar mensagens com os procuradores, vazou tudo para a imprensa alegando que havia interesse público.

Outros jornalistas e meios de comunicação que estão divulgando os vazamentos recentes estão cumprindo seu papel (de jornalismo informativo). Essa é a tarefa da imprensa, do rádio, dos jornais, dos sites (desde que o fato seja verdadeiro).

O possível hacker, se é que tudo foi obtido por um deles, cumpriu o seu papel criminoso (descobrir fatos relevantes). Cometeu crime (não há dúvida) e por isso deve ser responsabilizado, mas cumpriu o seu papel de hacker.

Moro foi ao Senado (na CCJ) e cumpriu o seu papel: não negou as informações vazadas, mas não tem certeza sobre a autenticidade delas. As conversações foram “normais”. Mas se houver irregularidades, disse, “deixo o Ministério da Justiça”.

Os inquiridores do Moro no Senado (tanto apoiadores como opositores) cumpriram seu papel. A CCJ do Senado cumpriu o seu papel, ou seja, o Parlamento cumpriu seu dever de apurar fatos relevantes para a vida da República.

Nos bastidores da Câmara tenho observado que cada grupo parlamentar vem cumprindo seu papel (a esquerda quer a nulidade dos processos contra Lula; a direita, em geral, não vê nenhuma nulidade).

Lula, de dentro de presídio, vem criticando Moro pela sua “parcialidade” (está cumprindo seu papel). Nas redes sociais polarizadas vemos cada grupo antagônico cumprindo seu papel (alguns apoiam Moro; outros o contestam).

Quem tem interesses concretos tramitando no Ministério da Justiça escreve “In Moro I Trust” (está cumprindo o seu papel de defensor dos seus interesses particulares).

Os condenados pela Lava Jato assim como os ameaçados querem o seu fim (estão cumprindo o seu papel de detratores). Os Barões Ladrões que dominam a arte de saquear a nação querem aniquilar a Lava Jato (estão cumprindo seu papel canalha, mas deles não se pode esperar outro papel).

Nosso grupo ético deplora toda iniciativa que visa a acabar com a Lava Jato, dentro da lei (estamos cumprindo nosso papel). Os advogados que atuam na Lava Jato dizem que ela foi parcial e seletiva (ao desejarem a nulidade de tudo, estão cumprindo o seu papel). Boa parcela da população assim como as entidades acusadoras, a começar pela Procuradora-Geral da República, afirmam que nada deve ser anulado (estão cumprindo seu papel).

Bolsonaro deu apoio a Moro, seu ministro, embora não tenha sido 100% (está cumprindo seu papel). Alguns generais estão pedindo “Lula na Cadeia” ou “prisão perpétua para ele” (estão cumprindo o papel deles, como cidadãos). Os lulistas pedem sua liberdade. Todo cidadão tem direito de emitir sua opinião. É a liberdade de expressão.

Que falta agora? Que o Supremo cumpra seu papel de julgar. Os vazamentos revelam proximidade ilegal do ex-juiz Moro com os acusadores. Isso gera suspeição, nos termos do art. 254 do CPP. Suspeição pode gerar nulidade do processo. Compete ao Supremo julgar isso.

O STF dirá se Moro foi ou não parcial, anulará ou não um ou mais processos e cada ministro apresentará as razões do seu voto. Pronto.

É isso que se espera dos juízes no Estado Democrático de Direito. Que o STF cumpra o seu papel, com isenção e imparcialidade. Que não se furte, com adiamentos suspeitos, ao cumprimento do seu papel.

LUIZ FLÁVIO GOMES, professor, jurista e Deputado Federal Contra a Corrupção. 

Comentários

  1. Luan Michel menezes Carvalho disse:

    Boa tarde ilustre professor. Tenho um respeito muito grande pela forma como o Sr
    apesar de estabilizado financeiramente ingressou nesse mundo tão sombrio e obscuro dessa elite podre que comanda nosso país. Infelizmente não acredito na nossa corte Suprema, que seria o principal pilar da democracia do nosso país, e são os primeiros a deturpar tudo que está explícito na nossa querida Carta Maior. Espero muito mais deputados, senadores, presidentes e ministros com o seu caráter e perfil que nos mostra ter.
    Continue nessa luta, cada dia que passa o poder do povo vai tomando forma até se tornar o verdadeiro poder que a eles são destinados.

  2. Wallace Taylor disse:

    PROFESSOR LUIZ FLÁVIO GOMES, COM O DEVIDO RESPEITO, PECISAMOS SER PRUDENTES !

    POIS TEORIAS CONSPIRATÓRIAS PODEM ESTAR SENDO PLANTADAS, ORQUESTRADAS PELO SISTEMA CORRUPTO INSTITUCIONALIZADO BRASILEIRO, A FIM DE DESVIAR AS NOSSAS ATENÇÕES DE QUESTÕES TÃO ESTRATÉGICAS E IMPORTANTES QUANTO ESSA DO ATAQUE DE HACHERS À OPERAÇÃO LAVA JATO.

    O FATO É QUE O SISTEMA CORRUPTO INSTITUCIONALIZADO BRASILEIRO DE MODO RECORRENTE VÊM FAZENDO INVESTIDAS EM VÁRIOS FLANCOS CONTRA MORO, DELTAN, A FORÇA TAREFA E TODA OPERAÇÃO LAVA JATO.

    PORTANTO, É IMPERATIVO EXTREMO CUIDADO QUANDO ESTAMOS DIANTE DE UMA AÇÃO ORQUESTRADA E DIRECIONADA A QUEM VEM PRESTANDO RELEVANTES SERVIÇOS A ESSE “PAÍS”, VISTO QUE TUDO OU PARTE SIGNIFICATIVA DO QUE FORA DIVULGAD, POSSA ESTAR FORA DE CONTEXTO, INCLUSIVE ESSE ATAQUE RASTEIRO ESTA SENDO APURADO POR NOSSOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA, INTELIGÊNCIA, FISCALIZAÇÃO E CONTROLE.

    1. Denilson disse:

      Com todo respeito, se há alguma teoria conspiratória, veio para levar nossos recursos naturais, nossas empresas rentáveis e suma importância estratégica e econômica para o desenvolvimento do Brasil, como Petrobras e Sistema Eletrobras. Devemos ficar atentos aos erros do passado e fazer uma reforma fiscal e verificar esse déficit fiscal, renegociar o impagável. Quanto às descobertas, não são novidades.

    2. Rosa Maria disse:

      Certíssimo.Prudência.

  3. Rogerio Borges disse:

    Parabens pela posiçao Professor.
    Continua angariando meu respeito e consideraçao!

  4. Rosa Maria disse:

    Seria muito importante analisar a motivação dessas gravações e desses vazamentos.Será que o objetivo era válido?

  5. Moacyr Lopes Junior disse:

    Bastante necessário que se abra a caixa preta onde esteve instalada a ordem das apurações da lava-jato. Ao que tudo indica o juiz monocrático sob a égide da opinião pública se vestiu de herói e atropelou o devido processo legal. Inadmissível no Estado de Direito Democrático, não se pode passar a mão na cabeça daquele que a vida privilegiou (méritos próprios inclusive) e tem o compromisso de ser isento, de presidir um processo. Quantos juízes, promotores se assemelham a este modelo torto? É necessário que a sociedade amadureça e os operadores de direito usem o múnus público de esclarecer com imparcialidade e não com paixão e raiva.

    1. Toni disse:

      Faço minhas tuas palavras… A imparcialidade não pode ser considerada figura decorativa como muitos querem.

  6. Paulo Miranda disse:

    Não me parece que os condenados pela Lava Jato querem seu fim. Penso que eles querem é exercer seu direito a ampla defesa e contraditório. Acabar com um projeto não altera os resultados do projeto, já alcançados;
    Para mim, os piores inimigos de um projeto são os atores responsáveis pelas atividades deste projeto, que não cumprem seu papel em conformidade com as premissas do projeto, pois isto impõe retrabalho e nem sequer se poderia falar em condenação, uma vez que o vício do ato poderá tornar a decisão teratológica;
    Talvez o STF não tenha cumprido o seu papel, pois corrigir eficazmente distorções é fundamental para manutenção e garantia de bons resultados de um projeto.
    Todos e quaisquer cidadãos conscientes gostariam de ver bons projetos sendo implementados e a extinção de maus projetos, principalmente aqueles que tem como resultados injustiça e falcatruas. Tanto os projetos, como as rotinas precisam de checar, rever, corrigir vícios. Isto deve ser encarado como implementação de melhoria e preservação da conformidade.

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