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Acervo - Blog Luiz Flávio Gomes

“Você sabe com quem está falando?” Agora é crime

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A nova lei de abuso de autoridade aprovada pela Câmara, dentre outras novidades, pune como crime a velha prática aristocrática do “Você sabe com quem está falando”.

A lei é para todos, mas alguns se acham superiores a ela. Uma servidora pública do Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro foi constrangida no exercício da função por um juiz de direito.

A agente, que estava trabalhando em uma blitz, chegou a receber voz de prisão e quase foi algemada simplesmente por estar atuando de acordo com o que diz a lei.

O magistrado, que estava conduzindo um veículo sem placas e com nota fiscal de compra com prazo vencido, entendeu que poderia se beneficiar do status de autoridade para livrar-se de uma ocorrência.

Contrariado por ser tratado como todos perante a lei, ele respondeu aos berros, chamando-a de “abusada” e ordenando sua prisão. Quando abordada, a agente do Detran respondeu: “Ele não é Deus”.

O desfecho da história foi lamentável no Rio de Janeiro: o Tribunal de Justiça, em um ato corporativista, condenou a funcionária pública a pagar R$ 5 mil de multa por abuso e danos morais.

Ou seja, ela foi punida por aplicar a lei contra um indivíduo que possui privilégios por causa de sua posição social.

Para corrigir este tipo de situação ultrajante, a Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (14), em caráter de urgência e em votação simbólica, o Projeto de Lei nº 7596/2017, que tipifica situações de abuso de autoridade cometidas por agentes do serviço público e membros dos três poderes da República, do Ministério Público, das Forças Armadas e dos tribunais e conselhos de conta.

O PL já havia passado pela Casa em 2016 e foi ao Senado Federal para ajustes. Retornando, o texto passou sem alterações e será encaminhado ao Palácio do Planalto para a sanção do presidente da República.

Está na caneta do chefe do Executivo a decisão de não atrapalhar o aprimoramento republicano assim como a civilização dos costumes no Brasil, tornando-o menos hierarquizado e arcaico, dominado pela crença de que descumprir a lei compensa, que somos o país da impunidade e que não somos iguais perante a Constituição.

Enquanto a desigualdade racial, social e econômica açoita os brasileiros, uma minúscula parcela de abastados persiste em ir contra os princípios éticos e morais que regem as nossas leis. O caso da agente de trânsito é apenas um entre os vários que acontecem diariamente.

Espera-se que com a nova legislação sobre abuso de autoridade, que deve ser sancionada pelo Presidente, esse tipo de manifestação nefasta e inescrupulosa não se repita. Onde houver abuso, que o cidadão possa estar municiado da Lei para garantir os seus direitos.

Assim, poderemos dar fim a uma tradição carregada de vícios, preconceitos e privilégios, que se estabeleceu no país desde o período colonial e que favorece descaradamente uma camada de 0,1%.

Nenhuma autoridade pode ser cerceada em suas atividades. Mas também não podemos ser tolerantes com o abuso. O que queremos é um novo modelo de gestão democrática, com transparência e justiça e que nossa democracia seja marcada pela efetiva igualdade de todos perante a lei.

LUIZ FLÁVIO GOMES*, professor, jurista e Deputado Federal. Estou no f/luizflaviogomesoficial. WhatsApp: (11) 99261-8720

*Com a colaboração de Lécio Luiz Gomes Junior

Comentários

  1. Nair disse:

    A lei e igual para no só no papel.eles sempre estar por cima de todos. Em rido e a lei os defense. Até quando vamos ver tantas injustiçaa nesse ônus?

  2. Marcelo disse:

    Então prof. Luiz Flávio Gomes, podemos entender que se o Projeto de Lei nº 7596/2017 se sancionada pelo presidente Bolsonaro, estará beneficiando mais o cidadão comum que a classe política acostumada a agir de forma desonesta em função do cargo público, que depois de descoberto poderia recorrer a tal lei, assim se livrando momentaneamente de ser preso?

  3. Eldemar disse:

    Caro Deputado, tenho certeza que seu conhecimento lhe dá capacidade de enxergar com mais profundidade esse PL do Renan Calheiros e Randolf Rodrigues. Não se faça de ingênuo, qualquer idiota sabe que o caso citado pelo senhor é clássico abuso de poder, mas a Lei que pelo visto o Sr aprovou com seu voto, favorece muito mais bandidos e corruptos e amarra os homens da Lei. Sua intenção, pra variar, é colocar Bolsonaro na saia justa.

  4. Nilo Moraes disse:

    Sr. LFG, gostaria de ter 1/10 de seu vasto conhecimento, mas gostaria, por outro lado, que o Sr tivesse 1/10 de dó desse Brasil que nao aguenta mais ver tanto bandido impune. Por qual razão o Sr se põe contra a lava-jato e a favor dos políticos que assaltam nosso pais?

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